7 Sinais de Relacionamento Abusivo ou Um elefante na sala de estar!
Como saber se estou em uma Relação Abusiva?
O que devo fazer neste caso?
Quais são os profissionais que podem me ajudar?
Porque as mulheres são as principais vítimas?
A ideia de que os relacionamentos podem assumir um caráter abusivo é, de certa forma, recente em nossa sociedade. Esta compreensão veio na esteira de diversas conquistas sociais como a emancipação das mulheres e com o avanço das teorias psicológicas dos últimos 100 anos. Mesmo com nossa capacidade atual de análise mais apurada e lúcida, este ainda é um tema recorrente e infelizmente presente nas queixas que os pacientes nos trazem no consultório diariamente.
Aliado à isso, essa temática ganhou ainda mais visibilidade especialmente devido ao fato da própria conscientização das pessoas sobre a realidade dura de suas vítimas e da larga divulgação nas redes sociais sobre o assunto. Isso significa que mais e mais pessoas puderam se reconhecer em um relacionamento abusivo e com isso buscar ajuda e apoio. Se você suspeita que seus relacionamentos são abusivos ou se conhece alguém que enfrenta este problema, leia este texto até o final e compartilhe com as pessoas próximas. A melhor maneira de resolvermos um problema é justamente buscar informações corretas e fontes seguras.
Vamos nos centrar aqui na figura feminina como aquela que está mais susceptível à situações de abuso, contudo qualquer um de nós pode ser uma vítima, bastando para isso estarmos inseridos em funcionamentos e dinâmicas vinculares pouco saudáveis.
Redes Sociais:
Durante o ano de 2020 com a “hashtag” #fiqueemcasa e recomendação de isolamento social, houve um aumento significativo nas notificações de violência doméstica e mais uma vez o contexto foi reatualizado e trazido para o centro de nossas reflexões, seus sinais, alertas e até mesmo suas consequências ficaram portanto mais claros para o grande público. Neste sentido vou procurar descrever aqui de forma acessível do que se trata esta situação complexa e alguns indícios para que você a reconheça e saiba o que fazer.
Como vimos, o acesso à internet, juntamente com as mobilizações nas redes sociais funcionaram com impulsionadores para que esse assunto tão espinhoso fosse tratado de forma aberta. Muitas reportagens, textos, livros e canais no Youtube vem auxiliando as vítimas na percepção da situação em que estão inseridas encorajando-as a se desvincularem de tal relação, mas por onde começar?
O primeiro passo é o reconhecimento!
O feminino construído:
É válido pensarmos como historicamente, as noções feminilidade foram construídas, ou seja, a conduta esperada das mulheres e de que forma esse conceito pode naturalizar a disparidade (alteridade) com que as mulheres são tratadas em suas relações afetivas. Segundo BORDIEU, seria “[...] como se a feminilidade se medisse pela arte de se fazer pequena, [...] mantendo as mulheres encerradas em uma espécie de cerco invisível (do qual o véu não é mais do que a manifestação visível)” (2002, p. 38). Para este autor, há uma espécie de “confinamento simbólico” encerrado nos atos e na postura corporal que as mulheres assumem nos espaços públicos e nos seus gestos na sociedade.
Entretanto, apesar do boom acarretado pela divulgação em massa, os dias presentes sinalizam a necessidade urgente de retomar as discussões e buscar auxiliar as pessoas (de qualquer gênero) em condição de vulnerabilidade a se soltarem dessa teia nociva que é um relacionamento abusivo. Falando nisso, esta metáfora parece bem vinda pois a teia de aranha por exemplo, é formada por fios de “seda” pegajosos, extremamente delicados, que podem ser mais fortes que o aço e sendo assim, apesar da delicadeza visível, a ameaça é algo eminente.
Essa comparação nos possibilita iniciarmos a discussão, uma vez que os sinais nem sempre são percebidos pelas vítimas ou pelas pessoas mais próximas, ou seja, por quem está do lado de fora da relação. Em alguns casos a conscientização do parceiro abusivo pode ser também o início para uma grande mudança em padrões. Aqui vale lembrar que uma terapia seja ela individual ou de casal, poderia fazer com que houvesse um reconhecimento mútuo já que não construímos uma relação sozinhos, se há um abusador, há também alguém que sofre com este abuso.
Simone Beauvoir afirmou que as mulheres são capazes de reconhecer que “o universo em seu conjunto é masculino; os homens modelaram-no, dirigiram-no e ainda hoje o dominam”, para a autora as mulheres assumiram ao longo dos séculos a concepção machista de que são inferiores e dependentes e, por conta disso, não conseguiriam emergir totalmente na coletividade como sujeitos plenos. Mesmo para as gerações recentes, a figura da mulher ainda é vista como “encerradas e fechada em sua carne, em sua casa” experimentando certa passividade em face à regras definidoras de fins e valores (BEAUVOIR, 2009, p. 782).
Pensando ainda no exemplo da teia pegajosa e estabelecendo uma comparação com os relacionamentos abusivos, este modelo é algo muito bem arquitetado de modo a prender o outro portanto. O ato de prender não se faz de forma escancarada, perceptível, e sim de modo sutil, quase que invisível, por isso é tão difícil para quem está nessa situação conseguir se desvencilhar do emaranhado que o envolve.
Sendo assim, dar nomes às cores que pintam essa cena, é também uma forma de tornarmos visíveis os aspectos que caracterizam uma relação abusiva. O que tem nome é dotado de significado, é identificável, e sobretudo, existe!
É importante ressaltar o fato de que há uma naturalização de comportamentos tipicamente abusivos no patriarcado, isso traz uma consequência direta no sentido de dificultar que as vítimas percebam o todo. Em nossa sociedade muitas vezes o controle e ciúme vem disfarçados de amor, a possessão mascarada como cuidado, a dependência afetiva vista como conexão forte entre o casal. Todos esses elementos vão compondo a teia que envolve o parceiro mais frágil principalmente mulheres, como presas, elementos de posse e passível ao controle. Bem mas como então identificamos que vivemos sob o teto de uma relação abusiva? Veja em seguida.
Os 7 sinais que você está em uma relacionamento abusivo:
1 - Violência:
Um dos aspectos principais que compõe a relação abusiva e o primeiro a ser elencado aqui sem dúvida é a violência. Mas não se engane ao pensar que se trata somente da violência física, há também a verbal: sabe aquelas palavras que são como golpes e agridem? Isso é um ataque direto e traz efeitos nocivos à curto e longo prazo como a perda da autoestima, sentimento de humilhações, depressão e ansiedade. Se você começa a se identificar com este cenário, vale analisar se por acaso existe uma situação de abuso, seja ela afetiva ou profissional.
Há também a violência emocional, rodeada de chantagens, manipulações e mentiras. Aqui podemos incluir a violência psicológica, cujo parceiro tenta coagir o outro e quase sempre, faz com que o outro questione seus juízos de valor, suas crenças e seu lugar na relação.
A violência sexual também aparece nesse tipo de relação uma vez que a falta de consentimento e imposição surgem com frequencia. O “Não” deve ser respeitado e qualquer ação que vá além desta interdição pela palavra é estupro, ou seja, não é não!
O demasiado controle financeiro também configura um tipo de violência, já que visa rebaixar socialmente o outro. Se o parceiro critica sua carreira, menospreza sua profissão ou não reconhece suas vitórias fique atenta.
Além da violência apresentada das diferentes formas citadas acima, existem outros sinais cuja presença dentro de um relacionamento são indícios do abuso, vejam a seguir...
2 - Manipulação e controle:
A relação se torna uma teia e o parceiro abusivo faz de tudo para isolar o outro, mudando os ambientes sociais de convívio, alternando as amizades, diminuindo a frequência dos encontros familiares sem justificativa e aos poucos vai alienando o parceiro e convencendo-o de que só a presença dele é suficiente.
A tecnologia facilitou muito a vida das pessoas mas por outro lado, acabou também funcionando como instrumento para manipular e controlar, uma vez que o parceiro abusivo a utiliza como meio de ameaças, instrumento para pânico e especialmente vigilância e espionagem.
3 - O Amor justifica:
Amor que sufoca em “overdose”, a excessiva busca por mudar o parceiro, as críticas constantes, o menosprezo diante das vitórias e celebrações do outro, tudo isso com a justificativa de “faço isso porque te amo”, “eu quero o melhor para você” ou simplesmente “te amo, mas você precisa mudar”. Esses diálogos, quando constantes e repetitivos, denotam uma tentativa de enfraquecer o outro lado da relação criando uma impressão de cuidado. Essa experiência é sempre ambígua e gera um estado de confusão, afinal ele me ama ou não? Quem está errado?
4 - Pedagogia do medo:
A relação se torna um campo minado em que a vítima o tempo todo "pisa em ovos" com medo de magoar seu parceiro, evita utilizar certas roupas, falar de determinados assuntos, estar na companhia de suas amizades, pois sabe que qualquer passo fora da expectativa do outro pode resultar em discussões, brigas e na pior das hipóteses, violência. Fica claro que há uma impossibilidade de se afirmar como um sujeito dotado de desejos, sonhos e neste caso há uma falta brutal de empatia, em outras palavras, a sua identidade fica comprometida e enfraquecida o que desfavorece inclusive os recursos internos para haver uma reversão da situação. A terapia funciona muito bem neste ponto, é preciso estar bem novamente para ter forças e seguir em frente.
5 - Síndrome de culpa:
Aquele que pratica os abusos no relacionamento, fará o possível para que o outro tome para si toda a culpa dos acontecimentos ruins na relação de modo a lhe atribuir todo o peso dos problemas que surgem. Todos os argumentos são construídos para que um dos parceiros seja responsabilizado por conflitos reais ou fantasiados. Vale ponderar e perceber onde há razão e equilíbrio e onde há imposição e autoritarismo.
6 - Complexo de inferioridade:
Em detrimento dos abusos psicológicos, a vítima acredita que não há nada de bom em si mesma, que a virtude só existe em detrimento do outro. Imagina que se não estiver naquele relacionamento não irá conseguir se relacionar novamente, que está feia demais, ou fora do padrão aceitável para tentar novamente. Pensa que não é inteligente o suficiente para tomar suas decisões sozinha e que diante da fragilidade e precariedade o melhor seria permanecer em constante sofrimento. Tudo isso faz com que a vítima se mantenha presa na teia do abusador e fique apática e anestesiada. Aqui vemos muitas pessoas buscando um psiquiatra e fazendo uso de ansiolíticos e antidepressivos em altas doses, porém os medicamentos tratam dos sintomas sendo que a causa é justamente um relacionamento desajustado. Claro que as medicações são válidas em alguns casos, mas considere também uma conversa com um psicólogo, este profissional pode te ajudar nesta etapa de superação.
7 - O cultivo da indiferença:
O parceiro abusador além de menosprezar as conquistas do outro, de constantemente o diminui, passa também a não se importar com as demandas e anseios da companheira, não demonstra interesse, desdenha de suas carências e constantemente ratifica que a relação só é boa e ainda existe porque ele, o abusador, está ali buscando a felicidade de ambos.
Tentei elencar no texto alguns dos sinais que podem nos alertar sobre relações abusivas, evidentemente existem outros. Por isso caso você não esteja confortável e feliz em sua relação afetiva, reflita... essa pode ser uma oportunidade de finalmente dar uma guinada em sua vida sentimental. Boa sorte!
Tratamentos:
Ao notar essas características presentes no seu relacionamento, ascenda uma luz amarela e coloque sobre você mesma um olhar mais afetuoso afim de que, em uma ação de autocuidado, consiga romper com essa teia e desfrutar da liberdade fora de uma relação abusiva. Não tenha vergonha de buscar ajuda!
Vale lembrar que o processo pode ser dolorido, entretanto nenhuma metamorfose acontece sem dores. Existem diversas possibilidades para o tratamento das vítimas de relacionamentos abusivos e penso que o processo terapêutico auxilia muito nessa etapa visto que, com ajuda de um profissional, seria possível fazer uma transição desse lugar claustrofóbico causada pela teia de sufocamentos para um ambiente potencial com novas escolhas e mais possibilidades no campo da Vida.
Como pedir ajuda:
Busque grupos de apoio em sua cidade, na internet. Leia todo o material que você possa ter acesso, veja vídeos com depoimentos de mulheres e pessoas que foram vítimas de situações similares e mais do que tudo, pense seriamente em buscar ajuda profissional. Os psicólogos são formados e preparados para lidarem com temas delicados como este, oferecendo apoio e acompanhamento mesmo em casos graves.
Para quem mora fora do Brasil ou em regiões afastadas dos grandes centros, a Psicoterapia online é bastante promissora.
Se ao ler o texto você percebeu algo semelhante em você ou em alguém próximo, talvez seja o momento de buscar ajuda. Acredite, é possível ser independente mesmo amando alguém!
Gostaria de mais informações ou de agendar uma entrevista para iniciar uma terapia?
Entre em contato e invista no melhor para você.
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Referências:
BATAILLE, Georges. O erotismo. Trad. Fenando Scheibe. São Paulo: Autêntica Editora, 2014.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Trad. Sérgio Milliet. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
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