Ansiedade na Era Digital: Como a terapia e o contato humano podem te ajudar.
- Leonardo Maia
- 23 de mai.
- 5 min de leitura

Em um mundo onde a tecnologia permeia cada aspecto de nossas vidas, a ansiedade tornou-se uma companheira indesejada para milhões de brasileiros. Não é por acaso que, segundo pesquisa recente da Covitel de 2024, 26,8% da população brasileira sofre de algum transtorno de ansiedade, o equivalente a impressionantes 56 milhões de pessoas. Este número alarmante coloca o Brasil em uma posição preocupante no cenário mundial da saúde mental.
A epidemia silenciosa da era digital
A ansiedade foi eleita a palavra do ano no Brasil, e não sem motivo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), somos o país com o maior número de pessoas ansiosas, representando 9,3% da população. Este fenômeno não ocorre isoladamente, mas está intrinsecamente ligado à nossa crescente dependência digital.
Um estudo publicado pela Canadian Journal of Psychiatry comprovou uma correlação direta: quanto maior o uso de telas, maior o nível de ansiedade. Esta realidade torna-se ainda mais preocupante quando consideramos que, de acordo com pesquisa da USP, os brasileiros passam em média 56% do dia em frente às telas de smartphones e computadores.
Entre os jovens, o cenário é ainda mais alarmante. Segundo levantamento publicado pela revista VEJA, 45% dos casos de ansiedade em jovens de 15 a 29 anos estão relacionados ao uso intensivo de redes sociais. Outro dado impressionante vem de um estudo da USP que revela que a tecnologia aumenta a ansiedade em 70% dos jovens brasileiros.
"Estamos criando uma geração que não sabe lidar com o silêncio e a ausência de estímulos constantes", alerta a Dra. Maria Helena Pereira Toledo Machado, professora de Psicologia da USP, em entrevista à Folha de São Paulo. "O cérebro humano não evoluiu para processar a quantidade de informações e estímulos que recebemos diariamente através das telas."
O paradoxo da conexão digital
Vivemos um paradoxo: nunca estivemos tão conectados digitalmente e, ao mesmo tempo, tão desconectados humanamente. No Brasil, aproximadamente 25,3% dos adolescentes se identificam como dependentes moderados ou graves de internet, conforme estudo do Núcleo de Estudos em Saúde Pública da UnB. Esta dependência tem um preço alto: 62% dos brasileiros de 18 a 24 anos se declaram "angustiados".
A inatividade física, outro subproduto da vida digital, afeta aproximadamente 60% dos adolescentes brasileiros, segundo a Revista FT. Esta sedentarização não apenas compromete a saúde física, mas também agrava quadros de ansiedade e depressão.
"A tecnologia nos deu a ilusão de que estamos mais conectados, quando na verdade estamos cada vez mais isolados em nossas bolhas digitais", explica o psicólogo Roberto Peres, em artigo para a Revista Brasileira de Psicologia. "O contato humano real, com todas as suas nuances e complexidades, foi substituído por interações superficiais mediadas por telas."
O poder terapêutico do contato humano
Em meio a este cenário desafiador, pesquisas recentes trazem uma luz de esperança ao confirmar o que muitos já intuíam: o contato humano é um poderoso antídoto contra a ansiedade da era digital.
Uma pesquisa realizada com dez mil participantes, divulgada pela CNN Brasil, revelou que o toque físico consensual pode ser extremamente benéfico para a saúde mental. De acordo com os pesquisadores, o estudo mostrou que o toque pode ser utilizado em tratamentos para reduzir dor, depressão e ansiedade.
Segundo a revista Super Interessante, sessões regulares de toque, como quatro sessões de 20 minutos, melhoram significativamente a saúde física e emocional. O contato físico estimula a liberação de ocitocina, hormônio relacionado ao bem-estar e à redução do estresse.
"O toque humano é uma necessidade biológica, não um luxo", afirma a neurocientista Dra. Claudia Feitosa-Santana, em estudo publicado na Revista Brasileira de Neurociências. "Quando privamos nosso organismo desse contato, criamos um terreno fértil para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade."
Além do toque, o simples contato social regular também apresenta benefícios significativos. Segundo o portal Dasa Saúde, socializar não apenas diminui os sentimentos de solidão, mas também evita a depressão e ansiedade, fortalecendo o sistema imunológico e aumentando a longevidade.
A terapia como ponte para o equilíbrio
Diante dos desafios da era digital, a psicoterapia emerge como uma ferramenta fundamental para restabelecer o equilíbrio mental. Segundo estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a terapia promove melhora significativa dos sintomas de ansiedade, com taxas de abandono do tratamento caindo de 37% para 6% quando há um acompanhamento adequado.
A terapia cognitivo-comportamental tem se mostrado particularmente eficaz no tratamento da ansiedade relacionada ao uso excessivo de tecnologia. "A TCC ajuda o paciente a identificar padrões de pensamento disfuncionais relacionados ao uso de dispositivos digitais e desenvolver estratégias para modificá-los", explica o Dr. Paulo Knapp, presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas, em entrevista à Revista de Psiquiatria Clínica.
Interessantemente, a própria tecnologia pode ser uma aliada no tratamento da ansiedade quando usada de forma consciente e terapêutica. Um estudo do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento da UFRGS investigou o uso de ferramentas digitais para o tratamento da ansiedade, com resultados promissores.
"A tecnologia não é intrinsecamente boa ou má; o problema está na forma como a utilizamos", pondera a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil. "Quando usada como complemento à terapia tradicional e não como substituta do contato humano, as ferramentas digitais podem ser valiosas aliadas no tratamento da ansiedade."
Encontrando o equilíbrio na era digital
O caminho para reduzir a ansiedade na era digital passa necessariamente por um reequilíbrio entre o mundo virtual e o real. Algumas estratégias recomendadas por especialistas incluem:
1. **Estabelecer limites claros para o uso de tecnologia**: Definir horários específicos para checar e-mails e redes sociais, evitando o acesso constante.
2. **Praticar a desconexão consciente**: Reservar períodos do dia para ficar completamente offline, dedicando-se a atividades que não envolvam telas.
3. **Priorizar o contato humano real**: Cultivar relacionamentos presenciais, participar de atividades em grupo e valorizar momentos de conexão genuína.
4. **Buscar ajuda profissional**: A psicoterapia oferece ferramentas valiosas para lidar com a ansiedade e desenvolver uma relação mais saudável com a tecnologia.
5. **Reconectar-se com a natureza**: Estudos da WWF mostram que o contato com ambientes naturais reduz significativamente os níveis de ansiedade e estresse.
"O ser humano é, antes de tudo, um ser social que evoluiu para viver em comunidade e depende do contato com outros para seu bem-estar psíquico", ressalta o psiquiatra Dr. Drauzio Varella. "Nenhuma tecnologia, por mais avançada que seja, pode substituir completamente a riqueza das interações humanas face a face."
Conclusão
A ansiedade na era digital é um desafio complexo que exige uma abordagem multifacetada. Se por um lado a tecnologia contribui para o aumento dos transtornos de ansiedade, por outro, o contato humano e a terapia surgem como poderosos recursos para restabelecer o equilíbrio mental.
Em um mundo cada vez mais virtual, talvez o verdadeiro antídoto para a ansiedade esteja no mais básico e ancestral dos recursos humanos: a conexão genuína com o outro. Como sociedade, precisamos reaprender a valorizar o contato humano e encontrar um equilíbrio saudável com o mundo digital que criamos.
A tecnologia veio para ficar, mas cabe a nós decidir qual papel ela desempenhará em nossas vidas: mestre ou ferramenta? A resposta a esta pergunta pode ser determinante para nossa saúde mental nos próximos anos.
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*Este artigo foi elaborado com base em pesquisas científicas e publicações especializadas em psicologia e saúde mental. Se você está enfrentando sintomas de ansiedade, busque ajuda profissional ou agende uma entrevista.
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